quinta-feira, dezembro 28, 2006

Sorrateira compaixão

Morde-me sorrateira e dormente
a sonâmbula arte da compaixão
ou o acto submisso que é sentimento
desprezível por ser prezado
e que outrora deu cenário
para escrever no ponto fraco
a imensidão da beleza soturna

ou o acaso existencial da tortura
como quem lança em casa nocturna
a realidade projectada na ruptura
jogada no balanço das emoções.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Tanto faz

Teclas flutuantes entrelinham-se
entre e contra si encurraladas se
voam ao sabor de quem as toca
trilham o caminho de quem as foca,
para a frente e para trás
e então que mal faz?!

Auroras de pálidas panaceias
são feitas de armadilhas teias
numeradas e ordenadas vacilam
em cada segundo que oscilam.

Na madrugada de luz cheia
e das gotas de chuva que a medeia
velho sábio fazia com breu
o que muito bem lhe apetecia
e se forças tivesse deus seria seu
pois bem, disso ele sabia
que no corpo e sua mente
e por tudo mais do que não era crente.

E as auroras de pálidas panaceias
invadem em nós as veias...
Ilógicas hastes se serpenteiam
ao sabor dos que as saboreiam,
para a frente e para trás
e no fundo tanto faz!



Phantas, Junho de 1999
Revisitado em 2006

terça-feira, dezembro 19, 2006

O trapézio

Ao circundar o perímetro
encavalitei-me no trapézio
o mais próximo no universo

Tentava não esbarrar um centímetro
ainda menos tropeçar em escarros de magnésio
Sim!
Deambulava até sobre eles de andar disperso

Então um polícia vestido de embaraço
veio tentar por algo um abraço
mas ninguém por obra lho cedeu.
Não que esse mal fosse apenas seu

Entretanto,
maldito era
o silêncio pranto
do mal que lhe dera

Funcionando
estava o trapézio
até ajuizando
alheias pessoas

As que de boas
olhavam e amavam

Umas outras salpicavam
atropelos fatalistas
e vidas metediças
debicando tal como aves irritadiças

Outros pregadores de pregos rasos
debitavam marteladas disformes
e certos mandavam ousar casos
parecendo assim usos uniformes

Adormecido de incompreendido
suspira o polícia resmungando
“Quanto mais me sinto decidido
muito mais me vou perguntando”

O trapézio continuava balançando
eu em cima saturado vou dançando
não uma dança de satisfação
simplesmente que inquieto digo não

“Quatrocentos mil números
envolvem maquiavélica fusão
ou talvez até inúmeros
questionem tal situação”

Uma miúda brincava de satisfeita
terna e ligeira sonhava conivente
não que ela pensasse em ser perfeita

talvez disso venha a ser um dia dependente

Brincava e sonhava
o sonho dos astutos
que levava para íngremes ladeiras
tudo quanto lá pairava

Os olhos da miúda quase produtos
não descreviam latente bebedeira
pois sendo tão claros e inocentes
no olhar alheio inocência tal pesava

Sorte de milhão perfilhava a pressão
havia outro tanto que cabia na sua mão
e azar de tostão seria não saber prever
que audaz toda a vida certa era de crescer

Formigas voadoras firmes cercam
sementes de que se vão alimentando
enquanto debaixo outras defecam
algo que do alto cai emanando

E um acto isolado
pode ser sempre confundido
pois de certo lado
está sempre fosfato embebido

Não que tenha de se seguir
muito menos prestar sentido
mas se alma alguma o cobrir
pode nunca estar perdido

O polícia que de sofrido
continua a resmungar
pois num ou noutro ouvido
algum barulho há-de soar

E os olhos da miúda sendo quase produtos
marcam-lhe seus únicos movimentos
seguindo sempre o sonho dos astutos
deste não desviando sequer por momentos

Algum tempo voa
passa da vida para fora
como que avultado e avistado
no infinito do vão destino
no emaranhado das civilizações
interrompido que é de acentos aleatórios
ou até de ventos contraditórios

Mas apenas esse tempo paira
pois o outro trespassa facilmente expoentes
factos correntes
e tempestades coerentes

O polícia está agora sentado
talvez cansado de resmungar
parece quase inanimado
mas presta-se assim alheado

O trapézio continua balançando
e eu observando vou cantando
não uma mera canção de ilusão
mas atento ao olhar vejo dissimulação.



Escrito algures em 1998 por Phantas
Revisitado em Dezembro de 2006