Coisas e loisas #1
Tenho-me esquecido de olhar as coisas em meu redor, talvez por não ter tempo ou até por cair na tentação de as ignorar. Não faço por mal, mas o facto é que dou por mim a reparar em coisas novas em sítios para onde olho todos os dias.
Resolvi fazer então um exame mental e tentar visualizar, qual máquina fotográfica adicionada à minha cabeça, como eram antes certos locais que foram modificados num passado recente.
E a realidade dói...
Na maioria dos casos não me lembro como eram esses locais antes de serem modificados! Das duas uma, ou estou a ficar esquecido, o que bem pode ser verdade, ou então não olho convenientemente as coisas que me rodeiam.
Não é que me preocupe muito com o não olhar as coisas mas quando penso que o mesmo pode acontecer-me em relação às pessoas com quem convivo diariamente, ocorre-me que poderei ficar a dever muito à vida que passa por mim.
Enfim, coisas!
Rol para me recordar
Detesto a ignóbil vida que corra livre da acção fértil de tentar
E as horas quando se acabam sem mais minutos para as moldar
Detesto ser detido na inteligência sem a recriar
E pensar que penso sem o acto de o falar
Detesto ainda o facto de ao poder não conseguir detestar
Barnabé, o pernalta
Está um insecto
No meu campo de visão
Longe do alcance
Não lhe toco
Não consigo
É pernalta e sem nomeDou-lho, Barnabé Chamo-o
Sem que dê sinal
Não me ouve
Não lhe importa
Em rua não mora
Casa não habita
É livre de ir e voltar
Com o tempo que tem
Não voa, salta
Nunca o ouvi falarNão fala, não magoa
Falta
À hora da chegada
Pois já não torna
É livre de ir e não voltar
Como é livre e de vir a saltar
É pernalta
Pula quase mola
Vaivém de força animal
Ignora
A hora da partida
Parte sem permissão
Sem pressa
Não precisa
Vai e não volta
Alegoria #1
Ventos sopram tacteando a pele ressequida da sensação
Levantando as lamas salgadas do mar agitado na sugestão
Abrem doídos sulcos na pedra da fecunda clareza
Empurram bravios a brochura da genuína certeza
Para onde exista a farta burla excessiva
Na sequência repetida da onerosa conjuntura
Ou na vil soltura com magnânima travessura
Que é a vã eloquência incapaz mas furtiva
Certeza existencial
Não estarei louco ou errado afinal (?!)
Pois sei que mais fácil seria ser igual
A outros tantos que vejo por aí
Mas gosto de pensar e isso já entendi
Que tenho neste mundo uma missão
E não apenas ser carne para canhão
Posso não saber em que me limitam
Os dias nas horas que me restam
E se ainda tenho tempo para descobrir
A razão pela qual acredito ao persistir
Sim quero neste mundo ter a ilusão
E não apenas ser carne para canhão
Ornatos vãos em recantos sãos
Raio parta a íngreme ladeira que me entorpece os músculos dormentesRaio parta o breu sinuoso que a contorna embrutecido pelo luar minguante
Raio parta a pobreza do mundo que há muito é estilhaçado e dilacerado
Bem-aventurado seja o raio luminoso que lhe traga a luz por fim
Bem-aventurado o que ilumine doravante a esfera tiranizada por sucedâneas explosões de fel
Bem-aventurado tudo quanto impulsione a inteligência no contínuo desejo da futura humanidade
Um pensamento avulso e outro convulso!
Gente da mesma laia perde-se na cumplicidade dos segredos mundanos que iluminam as suas vidas e estas mesmo sendo medíocres penetram ferozmente no direito à existência humana.
A libido dos dias passa-me alheia por entre as horas gastas no regato das emoções.
A pena ousar
Pena para jogar a pena de brincar
Pena para ter a leveza de escrever
E borrar para desprezar tudo o que doer
E não ferir o que confere depois ao se prezar
Afinal?!
Tudo existe e tudo é real
Tudo existe para o bem e para o mal
Difere a ruptura na concepção da palavra
Ao acaso e na direcção do vento d’oeste
Brrrrrrrrrr que frio traz...
Bato queixo em cascata
Pena ponho na errata
Pena tiro
Pena ponho
Bato queixo e reviro
A pena de escrever a brincar