quinta-feira, agosto 31, 2006

A viagem

A viatura obreira é certeira, no asfalto
viaja por entre bermas trapezoidais,
desbraváveis, virgens, descarnadas,
e à medida que por entre elas avança,
uma mão de fácil multiplicação alcança
a proporção que sendo já certa, oscila ainda
na balança de onde à espreita irão sentinelas
mergulhar na corrente progressiva emergente
da quadrifásica, activa e consciente infusão
da tornada complexa, simplicidade contributiva.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Espécie perpetuada

Inicialmente criado sob o título “A manha da manhã” este conto não está ainda revisto pelo que está ainda sujeito a alterações várias!

Acordara subitamente! O movimento principiado pela abstracção da estranheza desenhava-lhe um contorno facial capaz de estarrecer a vontade de sorrir. Por mais que olhasse em redor não reconhecia o local onde se encontrava. Se não sabia onde estava muito menos sabia razões para ter acordado num ambiente que desconhecia. O sol da manhã afigurava-se-lhe por entre as árvores e acenava-lhe espontaneamente por entre a folhagem sadia que se pavoneava ao sabor da brisa madrugadora. Ali perto uns pardais chilreavam saltitantes talvez saudando a manhã com que estavam a ser brindados. De fundo conseguia-se prestar atenção ao cantarolar constante de uma ribeira fresca embalada no que deveria ser o leito por ela criado. Prestou atenção à envolvente que escutava mas mentalmente não consegui visualizar onde poderia estar. Parecia todo um ambiente agradável mas causava realmente estranheza o facto de não saber onde estava.Resolveu fazer um reconhecimento ao local e começou a andar lentamente para oeste onde pensava encontrar alguma pista que lhe pudesse dar algumas indicações. Caminhava há quinze minutos por entre a vegetação densa quando se deparou com uma grande clareira onde reparou existirem cabanas de pau, palha e uma pasta que à primeira observação poderia parecer terra ou até estrume. Não havia movimento nem barulho que indicasse ser uma aldeia habitada. Aproximou-se mais para tentar entrar numa das cabanas. Entrou na mais próxima de si ao mesmo tempo que reparava na semelhança entre todas as construções e a disposição geométrica que o conjunto apresentava. Estava já muito absorvido por toda esta nova situação quando ouviu ruídos ao longe, ruídos esses que lhe deram a sensação de passos sobre vegetação seca.
Saiu cauteloso da cabana e esperou por mais algum ruído. Dez minutos passaram e nada ouviu. Andou mais um pouco e entrou noutra cabana mais próxima do centro geométrico do suposto aldeamento. Após alguns segundos lá dentro começou a ouvir vozes a sussurrar e com um movimento brusco saiu da cabana um pouco assustado. Novamente as vozes tinham desaparecido! Estranhava cada vez mais o local. Um misto de excitação e medo começaram a apoderar-se dele. Voltou a entrar noutra cabana e mais uma vez ouviu ruídos. Desta vez parecia o ruído de cavalos em batalha e espadas tilintando umas contra as outras numa busca incessante da morte sanguinária. Ficou atento à escuta e o barulho foi-se tornando tão ensurdecedor que lhe começou a ferir os tímpanos. Tentou aguentar mesmo assim até que algo mais acontecesse. Sentia-se confiante até que começou a ver um clarão tão forte que o impedia de ver mais alguma coisa que fosse. Procurou andar para fora da cabana mas já tinha perdido a direcção da saída. Foi então que começou a vir-lhe um sabor de sangue à boca mas ao tentar tocar-lhe nada sentiu. O coração tinha disparado e batia agora muito forte, pelo menos isso sentia e tinha noção.
Os segundos que passavam pareciam-lhe horas e afligia-o o facto de não dominar a situação. Tentou gritar por ajuda num acto quase irreflectido mas ao querer articular o mecanismo que lhe permitiria comunicar, nada aconteceu. Nada! Nem um gemido, um sussurro, nada... sentia-se como que descalço sobre uma floresta de lâminas afiadas e pontiagudas.Num instante ocorreu-lhe não oferecer resistência ao momento e foi o que fez de seguida. Conforme ficou imóvel sentiu um liquido espesso percorrer-lhe o corpo, desaguando aos seus pés que neste momento lhe pareciam dormentes, pesados e inseguros. O ruído cintilante das espadas continuava agora num tom mais moderado mas quanto menos as ouvia mais se sentia a desfalecer. Caiu por terra ainda consciente e sentiu qualquer coisa a esmagá-lo, algo que o apertava, que o sufocava numa onda de quase alheamento entre o corpo e a alma sendo a dor agora mais presente e insuportável. Conseguiu abrir os olhos por alguns segundos e reparou que eram os paus da cabana que saiam das paredes que formavam e o esmagavam como se de uma prensa tortuosa se tratasse. Quase triturado pensou que nunca mais veria a luz do sol que tanto lhe aprazia sentir na pele quando simultaneamente se sentiu envolvido numa curva descendente do corpo que caía alguns metros. Agora conseguia ter consciência e dominava de novo todos os seus sentidos. Ao olhar o novo local onde se encontrava espantou-se ao descobrir que estava numa sala hermeticamente selada, branca imaculada e bastante iluminada por luzes igualmente brancas.“Teria chegado a derradeira hora?!”, perguntou-se indignado e estupefacto! Duas portas se abriram ao tempo que uma voz feminina e robótica vinda de uns altifalantes colocados na parte superior da sala lhe ordenava para escolher uma das duas e entrar. Levantou-se, caminhou para a sua direita e ao aproximar-se da porta parou como se tivesse pressentido alguma coisa má. Voltou-se para o lado oposto e dirigiu-se para a outra porta. Entrou agora sem hesitar e à sua frente viu crianças desfiguradas que lhe acenavam e ao mesmo tempo gemiam frenéticas. Perante tal situação tentou sair daquele local mas a porta atrás de si fechou-se num ápice deixando-o à mercê da misteriosa circunstância.
Debaixo dos seus pés abriu-se uma espécie de alçapão pelo qual caiu e onde ficou preso e sem luz. Uma luz mínima acendeu-se lenta mas em poucos minutos iluminava toda a área onde agora se encontrava. Duas portas abriram-se num estrondo de onde saiu uma pessoa em cada porta vestidas de igual forma berrante e caricata e dirigiram-se para o centro da sala.
- Sabe o que faz aqui? – perguntou um deles.
O silêncio seguinte evidenciou o terror sentido.
- Não! – respondeu quebrando o silêncio.
- Sabe quem e o que somos? – insistiu.
- Não! Mas gostava muito de saber o que me está a acontecer nestas últimas horas, porque estou aqui e porque não sei quem sou!. – retorquiu como se de repente tivesse perdido o medo e dominasse agora a situação.
Outro estrondo se fez sentir e à sua frente saiu um ecrã gigante. As pessoas voltaram a entrar nas portas de onde tinham saído e um novo estrondo ecoou com o fechar destas. Imagens apareceram no ecrã à sua frente. Pareciam imagens de uma cidade, imagens estas que não parecia desconhecer mas que não identificava. Passados uns segundos viu-se a ele próprio na gravação que lhe era mostrada onde lhe era injectado um líquido com uma seringa por duas pessoas vestidas como as que tinha visto sair à momentos atrás. Viu-se a ele próprio desfalecer e a aparecer no local desconhecido onde tinha começado esta sua estranha aventura. Não se recordava de nada do que tinha visualizado no que lhe fora mostrado! A partir daqui houve um corte na gravação que lhe estava a ser apresentada e começou uma outra gravação onde um narrador contava uma espécie de uma história.
- Nós pertencemos a uma organização de uma espécie que quer permanecer viva e perpetuada. Fazemos todos parte de uma experiência. - Ouvia uma voz calma ao mesmo tempo que via uma filmagem de um campo com flores e uma música angelical de fundo.
- Agora fazes também parte desta experiência e já não poderás voltar atrás. As crianças que viste na sala anterior fazem parte da alimentação que queremos implementar. São crianças desenvolvidas em laboratório e a partir de agora serão toda a tua nova dieta. Tudo o que te recordas faz parte dos testes pelos quais todos os escolhidos como tu terão que passar. A seguir a nós criadores deste feito, tu foste o primeiro escolhido e atrás de ti virão outros que ao passarem os mesmos testes se juntarão a ti. Depois de todas as condições estarem criadas poderemos deixar o planeta e perpetuar a espécie pelo universo pois seremos auto-suficientes em tudo. Alguma pergunta?!